Este trabalho foi desenvolvido em continuidade a
outro apresentado no Enanpad, em 1995, o qual analisava as
circunstâncias em que a direção do Sindicato dos Trabalhadores da metalurgia baiana cindiu-se ao meio
na definição da política da entidade face à implantação de programas de Qualidade
Total em duas empresas vinculadas ao setor.
Tratava-se, em linhas gerais, de posições que se
diferenciavam entre, de um lado, discutir com as empresas a implantação do
programa para negociar interesses dos trabalhadores ou, de outro, considerar
que a ação sindical deveria primar-se pela preservação dos interesses dos empregados, cuja perda de benefícios e salários
era associada com a implantação do programa de qualidade. Enfim, o programa de
Qua1idade Total representava mais um mecanismo de exploração dos trabalhadores,
ou era uma inevitável mudança que se operava no processo de organização do
trabalho devendo-se negociar direitos sob o risco de não se assegurar direito
algum? Essa era, simplificadamente, a questão que estava posta.
Evidentemente, esta era uma manifestação aparente
de um quadro mais rico e complexo. Havia evidências substanciais de que a
negociação de processos dessa natureza, enfrentaria dificuldades resultantes da
tradição do patronato local em não permitir acesso às informações que julguem
estratégicas para seus empreendimentos e que seriam indispensáveis para a
negociação de metas de produtividade, custos, ganhos, etc.
Também, fator determinante para que não se visse
uma perspectiva concreta de solução negociada, era a visão incorporada pelos
sindicalistas, de um patrão inimigo de classe, em quem não se podia confiar
para acordos elementares, e cuja atitude pouco democrática, ou mesmo
autoritária, obstruiria sistematicamente a ação sindical.
As eleições para a renovação da diretoria da
entidade, que se realizaram sob o fogo da polêmica sobre qual política adotar
frente à implantação dos programas, serviu para alimentar também a disputa
entre as forças políticas que conviviam na diretoria há doze anos, desde o
afastamento da direção anterior, considerada patronal. A vitória da Chapa 1,
que defendia uma posição “contra o TQC e o GTQ”, poderia, em princípio, sugerir
um posicionamento dos trabalhadores quanto ã discussão, Mas, alguns fatores
indicavam que o resultado eleitoral não representava uma 'solução' para a polêmica.
Raramente encontramos na literatura uma abordagem
da Qua1idade Total sob a ótica dos trabalhadores, e esta nos pareceu uma
oportunidade excepcional de estudo, pela forma marcante como se apresentaram as
contradições.
Assim, em continuidade, nos propusemos a
identificar que valores, que manifestações, poderiam estar associadas à QT
pelos empregados das duas firmas estudadas. Julgamos importante esta questão
pela relevância que é atribuída na própria literatura da Qua1idade Total ao
envolvimento dos trabalhadores com o programa, considerado mesmo essencial à
obtenção de resultados desejáveis.
Procuramos analisar as características dos programas que foram implantados nas empresas estudadas, a atitude dos executivos frente à ação sindical e, enfim, o que pensavam os trabalhadores sobre um conjunto de questões que lhe foram propostas e que visavam auferir o seu grau de envolvimento com a empresa.
O resultado obtido nos parece interessante por dois aspectos. Primeiro, porque numa questão central da disputa conceitual por nós analisada entre as correntes sindicais, há uma forte tendência dos entrevistados, apesar de apontarem várias restrições à QT, em considerar os referidos métodos gerenciais como questões que cabem ao sindicato negociar.