07 abril, 1997

Qualidade total: o que pensam os trabalhadores

 


Nilton Vasconcelos Júnior e
Francisco L.C. Teixeira

          Este trabalho foi desenvolvido em continuidade a outro apresentado no Enanpad, em 1995, o qual  analisava  as circunstâncias em  que  a  direção  do  Sindicato  dos  Trabalhadores  da metalurgia baiana cindiu-se ao meio na definição da política da entidade face à implantação de programas de Qualidade Total em duas empresas vinculadas ao setor.

Tratava-se, em linhas gerais, de posições que se diferenciavam entre, de um lado, discutir com as empresas a implantação do programa para negociar interesses dos trabalhadores ou, de outro, considerar que a ação sindical deveria primar-se pela preservação dos interesses dos empregados, cuja perda de benefícios e salários era associada com a implantação do programa de qualidade. Enfim, o programa de Qua1idade Total representava mais um mecanismo de exploração dos trabalhadores, ou era uma inevitável mudança que se operava no processo de organização do trabalho devendo-se negociar direitos sob o risco de não se assegurar direito algum? Essa era, simplificadamente, a questão que estava posta.

Evidentemente, esta era uma manifestação aparente de um quadro mais rico e complexo. Havia evidências substanciais de que a negociação de processos dessa natureza, enfrentaria dificuldades resultantes da tradição do patronato local em não permitir acesso às informações que julguem estratégicas para seus empreendimentos e que seriam indispensáveis para a negociação de metas de produtividade, custos, ganhos, etc.

Também, fator determinante para que não se visse uma perspectiva concreta de solução negociada, era a visão incorporada pelos sindicalistas, de um patrão inimigo de classe, em quem não se podia confiar para acordos elementares, e cuja atitude pouco democrática, ou mesmo autoritária, obstruiria sistematicamente a ação sindical.

As eleições para a renovação da diretoria da entidade, que se realizaram sob o fogo da polêmica sobre qual política adotar frente à implantação dos programas, serviu para alimentar também a disputa entre as forças políticas que conviviam na diretoria há doze anos, desde o afastamento da direção anterior, considerada patronal. A vitória da Chapa 1, que defendia uma posição “contra o TQC e o GTQ”, poderia, em princípio, sugerir um posicionamento dos trabalhadores quanto ã discussão, Mas, alguns fatores indicavam que o resultado eleitoral não representava uma 'solução' para a polêmica.

Raramente encontramos na literatura uma abordagem da Qua1idade Total sob a ótica dos trabalhadores, e esta nos pareceu uma oportunidade excepcional de estudo, pela forma marcante como se apresentaram as contradições.

Assim, em continuidade, nos propusemos a identificar que valores, que manifestações, poderiam estar associadas à QT pelos empregados das duas firmas estudadas. Julgamos importante esta questão pela relevância que é atribuída na própria literatura da Qua1idade Total ao envolvimento dos trabalhadores com o programa, considerado mesmo essencial à obtenção de resultados desejáveis.

Procuramos analisar as características dos programas que foram implantados nas empresas estudadas, a atitude dos executivos frente à ação sindical e, enfim, o que pensavam os trabalhadores sobre um conjunto de questões que lhe foram propostas e que visavam auferir o seu grau de envolvimento com a empresa.

O resultado obtido nos parece interessante por dois aspectos. Primeiro, porque numa questão central da disputa conceitual por nós analisada entre as correntes sindicais, há uma forte tendência dos entrevistados, apesar  de  apontarem  várias  restrições  à  QT,  em  considerar  os  referidos   métodos gerenciais como questões que cabem ao sindicato negociar. 

https://doi.org/10.1590/S1984-92301997000200006

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