16 março, 2009

A DESTRUIÇÃO AINDA NÃO ACABOU


Nilton Vasconcelos

O terremoto cujo epicentro é o sistema financeiro dos Estados Unidos apresenta persistentes efeitos negativos, produzindo prejuízos astronômicos para os agentes econômicos. Por todo lado se vê destruição: de patrimônio, de empregos, de crédito. As tentativas de deter a fúria da economia parecem sempre insuficientes. Caso emblemático é a situação da seguradora AIG, na qual os governos Bush e Obama aplicaram em seis meses, recursos equivalentes ao valor de todos os bens e serviços produzidos no Chile em um ano, ou seja, um rombo do tamanho do PIB de uma importante economia da América do Sul. Calcula-se que as famílias estadunidenses perderam em um ano algo em torno de 11 trilhões de dólares do seu patrimônio.

Crescem os acampamentos dos que perderam suas casas e seus empregos no EUA, multiplicando no cotidiano daquele país cenas que lembram a crise de 29. O sistema financeiro europeu também sofre grandes perdas, assim como se observa o fechamento de incontáveis postos de trabalho.

Em todas as partes do mundo são registrados os impactos de uma crise anunciada. A escassez de crédito dificulta transações comerciais entre países e encolhe o consumo A iminente explosão da bolha imobiliária no EUA, um dos aparentes estopins da débâcle das finanças mundiais, foi assunto presente no noticiário televisivo e nos debates acadêmicos nos últimos anos, sem que decisões concretas fossem tomadas porque o pensamento econômico dominante não comportava as medidas que se faziam necessárias. Pois foi preciso que ocorresse uma hecatombe na economia para que fossem revistos os paradigmas, e providências nunca antes imaginadas por Wall Street, num verdadeiro “Contrasenso de Washington”, fossem adotadas levando à estatização de companhias e intervenção generalizada na economia, que fazem ainda agora, a herança intelectual de Adam Smith estremecer em agonia.

Mas se era evidente a crise financeira e de crédito em andamento, não se pode negar que há igualmente em gestação uma crise clássica de superprodução relativa. Ou seja, a geração de um excedente de produção que não é absorvida pelo mercado, não porque não haja necessidade de consumo destes bens, mas porque os consumidores não têm acesso aos meios para adquiri-los.

Como se sabe, no Oriente, e particularmente na China, mas também na Índia, Japão, Coréia do Sul, entre outros, a capacidade produtiva cresceu exponencialmente ao longo de muitos anos, gerando imensos superávits em seu comércio exterior.

Em grande medida este saldo positivo foi obtido em função da grande capacidade de financiamento do consumo, principalmente nos EUA e na Europa. Com a crise de crédito, alteram-se as bases da produção e do consumo. Os mercados asiáticos teriam que demonstrar enorme capacidade de absorção da produção para não gerar novos efeitos nefastos para o emprego e para as relações de trabalho. Sem mercado, as empresas reduzem a produção, encerram suas atividades ou são adquiridas por outras empresas. A elevação do desemprego impacta negativamente o consumo, levando a novas restrições na produção e no emprego, e simultaneamente, impactos sociais e políticos se evidenciam.

Na dinâmica do capitalismo, as crises devem promover em larga escala o fechamento de empresas, maior concentração do capital, eliminação de postos de trabalho, para que surja um novo ciclo de expansão econômica.

Por tudo isto é que não é excessivo afirmar que a destruição das forças-produtivas não aparenta ter chegado ao fim.