A senha é simples: "o mercado gostou", podendo significar que o índice da bolsa de valores subiu, o dólar caiu, as previsões de inflação melhoraram, a taxa projetada para crescimento do PIB se elevou, etc etc. Na maioria das vezes são movimentos especulativos, mudanças de fôlego curto, e logo os citados indicadores voltam a apresentar piora.
No entanto, a mídia televisiva, impressa, ou dos grandes portais de notícias, ao representar os interesses dos capitalistas que a financiam, ou simplesmente as têm como negócio, se apressam a difundir no imaginário popular que, o que é bom para o mercado é bom para a sociedade.
As mudanças pró-mercado, ressalta essa imprensa, de pronto, garantiriam maior produtividade, mais emprego, inovação, lucratividade, empreendedorismo - sonhos de consumo de qualquer economista que o plantão de notícias corre para entrevistar e confirmar a boa nova, já decidida pela chefia de reportagem, e pelo editor.
O mercado, contudo, é insaciável. As mudanças que lhe garante maior taxa de retorno não mais serão suficientes amanhã. A lógica da concorrência requer que os ganhos sejam crescentes, e qualquer redução na taxa de crescimento é vista como um mal a ser evitado.
É assim com a reforma trabalhista, que nunca foi o suficiente. Há novas concessões que precisam ser feitas, entregues em sacrifício a esse deus, por natureza insatisfeito. Tem sido assim nas periódicas reformas da previdência. Repete-se nas medidas que afastam o controle do Estado, seja pela presença direta ou tão somente por sua força de regulação.
Nunca é dispensável lembrar que nas crises, como na hecatombe resultante dos empréstimos hipotecários nos Estados Unidos iniciada em 2007, é sempre o Estado chamado a desempenhar o papel de Salvador. Aquela crise provocada pela ganância do dito mercado, só foi aplacada pelo socorro providencial do Estado que despejou mais de 1,5 trilhão de dólares para estancar a sangria.
Aliás, é assim em todas as crises, sob alegação de que sem o mercado não há emprego, blá, blá blá... Pois cada vez mais o emprego desaparece, e em seu lugar, quando surgem, são formas de trabalho eventual, mal remunerado, precarizado, e uma imensa parcela da população passa a ser considerada "indesejável", pois desnecessária ao mercado.
Pois tudo que fortalece o mercado leva, isto sim, à concentração de renda e à desigualdade. Os benefícios são circunstanciais, apenas para justificar as medidas que transformam direitos sociais em ganhos para o capital.
Assim será ainda por muito tempo, até "o dia em que o morro descer e não for Carnaval" como diz o samba do saudoso Wilson das Neves, que completa "ninguém vai ficar pra assistir o desfile final".
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