05 setembro, 2020

Catálogo das Entidades Sindicais da Bahia

 A Secretaria do Trabalho do Estado publicou edições do Catálogo de Entidades Sindicais, um material sempre muito consultado, sobretudo quando os buscadores da internet não eram tão eficientes, mas também há informações que nem sempre foram disponibilizadas digitalmente. A pesquisa nas diversas edições também permitia acompanhar eventuais mudanças nas estruturas sindicais, a ampliação do número de entidades, e sua distribuição espacial no Estado.

Reproduzo aqui a sétima edição, publicada em 2014, atualizada à época, e creio a última das edições produzidas pela Setre. Em maio de 2011, no mesmo mandato, havia sido lançada em sexta edição do catálogo.

Acesse o catálogo aqui



22 julho, 2020

Por que não ouvimos mais falar em Gestão pela Qualidade Total (GQT)?

 

https://periodicos2.uesb.br/index.php/ccsa/article/download/2037/1740/

Lis L. Bernardino e Francisco Lima Cruz Teixeira

“Resumo: A Gestão pela Qualidade Total (GQT) alcançou grande visibilidade e popularidade nas décadas de 80 e 90 no mundo ocidental. Porém, a partir da segunda metade da década de 90, esse modelo entrou em crise, perdendo destaque no meio acadêmico e empresarial. Atualmente, o esgotamento da GQT é amplamente reconhecido pela literatura. Considerando a relevância de tal abordagem para o campo da administração, esta pesquisa busca aclarar as causas da aparente exaustão. Visando atingir esse objetivo, este artigo utiliza- se de pesquisa bibliográfica para apresentar, com base na literatura, hipóteses que procuram explicar as motivações que culminaram na crise (ou declínio) do modelo de Gestão baseado na Qualidade Total nos países ocidentais e, consequentemente, no Brasil. Ao todo, foram apresentadas vinte hipóteses levantadas por nove autores. A mais plausível, formulada na execução deste trabalho bibliográfico, é que não há propriamente uma “crise” dos programas de GQT, pois muitos dos seus aspectos estão bem sedimentados na gestão atual das empresas. Eles continuam sendo implementados por meio de práticas ou programas gerenciais com nomenclaturas diferenciadas, porém ainda guardam muitas semelhanças com os antigos programas de Gestão pela Qualidade Total do estilo japonês.”


O trabalho cita artigo de minha autoria e do meu orientador de mestrado (Francisco Lima Cruz Teixeira) que aborda os resultados da pesquisa que realizei (1996) em duas empresas do setor metal-mecânico sobre a implantação de programas de Qualidade Total. No texto ora mencionado, lê-se:

“Novas hipóteses para o declínio do modelo de GQT podem ser formuladas com base na pesquisa realizada por Vasconcelos e Teixeira (1997) e intitulada “Qualidade Total: O que pensam os trabalhadores”. A pesquisa enfoca a abordagem da GQT sob a ótica da força de trabalho e teve como objetivo analisar o envolvimento dos trabalhadores em programas de Qualidade Total, implantados na década de 1990, em empresas industriais localizadas no estado da Bahia.

Em resumo, os resultados demonstram que a estabilidade no emprego, apontada pelos autores como fator chave de envolvimento e abordada em estudos anteriores e pela abordagem clássica da GQT ao estilo japonês, é um elemento não associado aos programas de GQT, na perspectiva dos trabalhadores. Os resultados mostraram, além disso, que os trabalhadores associaram perda de benefícios e salários e aumento do ritmo de trabalho à implantação dos programas de Qualidade Total, o que os aproxima de uma postura mais crítica do que da colaboração. Considerando que os principais divulgadores da Qualidade Total atribuem grande peso à necessidade de envolvimento e participação dos trabalhadores, aos aspectos motivacionais e à estabilidade no emprego, por meio de acordo implícito, os resultados apresentados por Vasconcelos e Teixeira (1997) são, no mínimo, desestimulantes para os defensores dessa abordagem considerada, predominantemente, colaborativa.

É importante estabelecer analogias entre os resultados obtidos nesta pesquisa e as hipóteses capazes de explicar a “crise” do modelo de GQT. Nesse sentido, é possível inferir que a falta de elementos como estabilidade no emprego, engajamento estimulado, envolvimento e participação tenham influenciado no insucesso ou “crise” dos modelos de GQT. Vasconcelos e Teixeira (1997) levantam uma nova hipótese para a “crise” do modelo, com ênfase para as condições desfavoráveis, em termos de qualificação, da mão de obra brasileira, principalmente se comparadas ao contexto japonês. Os autores destacam aspectos como educação deficitária, treinamentos insuficientes, grandes diferenças salariais, precariedade dos serviços sociais disponibilizadas pelo estado, entre outros. A manutenção dessas circunstâncias macrossociais pode interferir decisivamente no êxito dos programas (VASCONCELOS; TEIXEIRA, 1997).”

VASCONCELOS JR., Nilton; TEIXEIRA, Francisco Lima Cruz. Qualidade total: o que pensam os trabalhadores. Organizações & Sociedade, v. 4, n. 8, 1997.


28 março, 2020

Economia e Covid-19



Há um debate sobre o enfrentamento da pandemia desde os primeiros momentos. Basicamente, considera-se a relação entre saúde e economia. A princípio é uma preocupação justa, não se tratando propriamente de uma contradição. Uma escolha a ser feita entre um e outro.

No entanto, observou-se que nos casos em que se estabeleceu a contradição entre manter a quarentena ou garantir o livre funcionamento das atividades econômicas, em especial comércio e serviços. Na Itália, a opção por retorno ao trabalho e restrição apenas para idosos e população mais vulnerável, resultou pouco tempo depois numa explosão de contaminação pelo COVID-19 e do número de mortes em decorrência da enfermidade.

No Brasil, o tresloucado presidente, apostando de que, no futuro, quando os efeitos recessivos do fenômeno sobre a economia, as empresas e o trabalho se manifestassem, teria argumento para o conhecido "eu não disse?", quando poderia responsabilizar as demais autoridades que defenderam a política do confinamento da população. Assim, mobilizou sua milícia e até milionária campanha oficial estimulando a retomada do trabalho. 

Durante esses conturbados dias não faltaram supostos porta-vozes do empresariado defendendo a ideia de que estimadas 7 mil mortes não seriam tão significativas, e que se deveria relaxar a quarentena.

Lembro que não é absolutamente inédito este comportamento. Recentemente, uma operação policial flagrou frigoríficos que adulteravam carnes; da mesma forma não é incomum a prática de adulteração do leite. Os fabricantes de tabaco sabiam dos efeitos negativos do produto à saúde. Fabricante de automóvel sonegou informação sobre o descumprimento de norma sobre poluição; outros empresários negavam que sua atividade produzia poluição da água provocando mortes dos vizinhos, em caso que registrado pela cinematografia. 

Na atualidade, a sistemática negação dos efeitos climáticos do aquecimento global provocado pela contratam-se 'especialistas' que vêm a público negar as evidências científicas para garantir que não sejam reduzidas as emissões de poluentes, impedindo a perspectiva de redução dos efeitos do clima sobre o planeta e a população, em especial, os pobres.

O que une tudo isto é a ideia de que o lucro deve estar acima de tudo. Evidentemente, não nestes termos rasos, mas de forma sofisticada, sob a capa da necessidade de manter os empregos, de garantir o padrão de 'bem-estar' nas economias centrais, etc. Análises de custo e benefício são apresentadas, calcula-se o valor das indenizações a serem eventualmente pagas, em comparação com o lucro  a ser apurado no mesmo período, e coisas do gênero.

Ao contrário do que se apregoa nos ambientes empresariais e, infelizmente, na maioria das escolas de gestão, o mercado precisa ser controlado, precisa ser regulado.

A mão invisível não se preocupa em usar álcool em gel ou água e sabão. A contaminação é vista apenas como efeito colateral da atividade, assim como as mortes.