28 março, 2020

Economia e Covid-19



Há um debate sobre o enfrentamento da pandemia desde os primeiros momentos. Basicamente, considera-se a relação entre saúde e economia. A princípio é uma preocupação justa, não se tratando propriamente de uma contradição. Uma escolha a ser feita entre um e outro.

No entanto, observou-se que nos casos em que se estabeleceu a contradição entre manter a quarentena ou garantir o livre funcionamento das atividades econômicas, em especial comércio e serviços. Na Itália, a opção por retorno ao trabalho e restrição apenas para idosos e população mais vulnerável, resultou pouco tempo depois numa explosão de contaminação pelo COVID-19 e do número de mortes em decorrência da enfermidade.

No Brasil, o tresloucado presidente, apostando de que, no futuro, quando os efeitos recessivos do fenômeno sobre a economia, as empresas e o trabalho se manifestassem, teria argumento para o conhecido "eu não disse?", quando poderia responsabilizar as demais autoridades que defenderam a política do confinamento da população. Assim, mobilizou sua milícia e até milionária campanha oficial estimulando a retomada do trabalho. 

Durante esses conturbados dias não faltaram supostos porta-vozes do empresariado defendendo a ideia de que estimadas 7 mil mortes não seriam tão significativas, e que se deveria relaxar a quarentena.

Lembro que não é absolutamente inédito este comportamento. Recentemente, uma operação policial flagrou frigoríficos que adulteravam carnes; da mesma forma não é incomum a prática de adulteração do leite. Os fabricantes de tabaco sabiam dos efeitos negativos do produto à saúde. Fabricante de automóvel sonegou informação sobre o descumprimento de norma sobre poluição; outros empresários negavam que sua atividade produzia poluição da água provocando mortes dos vizinhos, em caso que registrado pela cinematografia. 

Na atualidade, a sistemática negação dos efeitos climáticos do aquecimento global provocado pela contratam-se 'especialistas' que vêm a público negar as evidências científicas para garantir que não sejam reduzidas as emissões de poluentes, impedindo a perspectiva de redução dos efeitos do clima sobre o planeta e a população, em especial, os pobres.

O que une tudo isto é a ideia de que o lucro deve estar acima de tudo. Evidentemente, não nestes termos rasos, mas de forma sofisticada, sob a capa da necessidade de manter os empregos, de garantir o padrão de 'bem-estar' nas economias centrais, etc. Análises de custo e benefício são apresentadas, calcula-se o valor das indenizações a serem eventualmente pagas, em comparação com o lucro  a ser apurado no mesmo período, e coisas do gênero.

Ao contrário do que se apregoa nos ambientes empresariais e, infelizmente, na maioria das escolas de gestão, o mercado precisa ser controlado, precisa ser regulado.

A mão invisível não se preocupa em usar álcool em gel ou água e sabão. A contaminação é vista apenas como efeito colateral da atividade, assim como as mortes.